A professorinha que jogava futebol

Li as vinte e oito crônicas deste blog. Uma melhor que a outra. Admirável o potencial de Aline Brandt que consegue ser nota dez em abordagens dos mais diferentes gêneros. Fala de vida, natureza, trabalho, animais, anjos, crianças... Fala de tudo que existe no universo sempre com um toque especial de amor.
O amor é o único ingrediente que não pode faltar para esta sensível escritora. Se o amor não existisse, tenho certeza, ela não escreveria. Teríamos uma triste lacuna em nossas vidas. Seríamos privados da sua sabedoria. Mas, felizmente, o amor existe e, no coração de Aline Brandt, em abundância.
Acho injusto não ter o leitor muitas informações sobre os usuários deste instrumento de comunicação (blog). Acredito que, conhecendo mais profundamente os autores de textos maravilhosos, como os de Aline Brandt, o leitor poderia se sentir mais a vontade para emitir elogios ou mesmo eventuais críticas. Por isso resolvi contar quem é Aline Brandt. Espero que ela me perdoe nas falhas que eu vier aqui cometer.
Aline Brandt é bem jovem. Fez os primeiros estudos na escolinha do bairro onde nasceu. Graduou-se em história e, depois, fez mestrado. É mestre em história. Seu sonho, desde a mais tenra idade, era ser professora. Adora trabalhar com educação. Se você prestar atenção nos textos do blog verá que todos têm caráter educativo. É claro: com generosas doses de amor.
Esta admirável escritora às vezes me fala de passagens marcantes de sua vida. Conta suas histórias sem um mínimo de exaltação. A humildade é uma das suas mais marcantes características. Saiba você que Aline Brandt me diz que, quando menina/adolescente, era desprovida de beleza. Isto é: não era bonita. Entretanto: na primeira vez que concorreu ganhou o título de rainha da sua escola. E, pelas fotografias que me mostra, constato que beleza, já naquela época, não lhe faltava.
Aline Brandt, mesmo rainha, não se achava bonita. Problema dela. A gurizada da escola estava sempre por perto. Tanto que a hoje habilidosa escritora acabou fazendo parte do time de futebol da escolinha que frequentava. Era a “Marta” do elenco esportivo masculino do bairro. E dizem testemunhas da mais alta credibilidade que jogava muito bem.
Pois é... A rainha que jogava futebol cresceu. Hoje tem um filho de 16 anos. Quando andam juntos as pessoas perguntam se são irmãos. Não há como imaginar uma mulher de aparência física tão jovem com um filho homenzarrão como aquele. Preciso contar como essa moça chegou até aqui. Tenho uma ferrenha vontade de ser justo. Mesmo assim posso cometer algumas falhas.
OBSTINAÇÃO
De família não muito abastada Aline Brandt obrigou-se a trabalhar desde cedo. Trabalhava, estudava, lia... Assim foi se construindo. A graduação em história se deu depois de quatro anos de viagens diárias, ida e volta, a Passo Fundo. O mestrado não foi menos exigente. Imagine você... Dias inteiros de trabalho atrás de um balcão e, depois, viagens e tempo de indispensável atenção na escola. Isto é missão para herói. Aliás... Eu vejo, em Aline Brandt, uma heroína. Não posso omitir o fato de que foi ela quem cobriu os custos financeiros dos estudos.
Heroína? É! Você tem direito de ser tomado por essa dúvida. Heroína é mesmo uma caracterização forte. Só que eu reafirmo: Aline Brandt é uma heroína. Depois de dois anos de dedicação ao mestrado – pesquisas, análises, textos – chegou o momento de defesa do trabalho perante a banca examinadora. Também em Passo Fundo.
Por uma falha desastrosa de comunicação – que atribuo à equipe da universidade – Aline Brandt foi chamada para a defesa do trabalho, via celular, quando a banca já estava reunida. Alguém falou: “Você não vai se fazer presente à reunião? A banca não pretende aguardar muito tempo.” Telefonema de Passo Fundo para Aline Brandt que se encontrava no trabalho em Carazinho. Imagine a angústia.
Não faltou quem dissesse: “Aline... Você não precisa ir. Não pode se submeter a essa desorganização. Deve exigir que marquem outra data.” Era um dia muito quente de primavera. O que fez a obstinada Aline Brandt? A jogadora de futebol do time de piá do bairro? O que fez? Caminhou do centro até a sua casa, apressadamente, para trocar de roupa e, de táxi, dirigir-se à reunião da banca em Passo Fundo.
Calor terrível... Rosto suado... Pés cheios de calos – consequência do deslocamento a pé do centro até sua casa... Cabeça repleta de dúvidas... Coração batendo forte... Reunião da banca. Eu, que me acho um sujeito cheio de coragem, não enfrentaria. Aline Brandt enfrentou. Deu, aos doutores da banca, uma lição inesquecível sobre a Revolução de 1923. Eu, que não sou muito chegado a história, fiquei encantado com o que pude conhecer de Getúlio Vargas e Borges de Medeiros – através do escrito da zelosa estudante.
LIVROS
Confesso que gostaria de voltar aos tempos de estudante e ter Aline Brandt como minha professora. Nenhuma das professoras de história que tive eram tão interessantes. Aprecio demais o gosto que a minha escritora preferida tem pelos livros. Quando faz aniversário e ganha uma jóia ela diz “muito obrigada”. Aos que lhe dão livro ela abre um largo sorriso e diz: “Nossa!!! Que maravilha!!! Muito obrigada.”
O sonho de Aline Brandt não é a prosperidade financeira extraordinária – tão comumente desejada entre os seres humanos. O sonho de Aline Brandt é ter uma enorme biblioteca. Eu acho enorme a biblioteca que ela já tem. Imagine quem deixaria seu quarto para os livros e se submeteria ao desconforto de dormir no corredor. É! A minha escritora preferida tem o quarto repleto de livros. E, sempre que o carteiro chega, eu não tenho dúvida: está ali mais uma entrega de livros. É uma coisa muito séria... A moça, na primeira vez que foi a minha casa, só queria saber onde eu guardava os livros.
Tive que, apressadamente, pedir a ajuda de alguns vizinhos. Era só gente me passando livros pela janela, pela porta do porão, pela garagem do carro... Montei, às pressas, para agradar a moça, uma gavetoteca. Explico: uma gaveta cheia de livros. Parece que só assim me tornei, aos seus olhos, um pouco interessante.
CARÁTER
Aline Brandt nasceu no início de um ano (3/1). No início de uma década (1981). Foi um presente do universo para quem reconhece a importância da educação. Em todos os seus caminhos esta jovem intelectual defende a educação... Difunde a educação... Recomenda a educação... Briga pela educação. Sua índole é da mais plena tolerância. Antagonismo, pelo seu gosto, jamais existiria. Sempre que posso lhe digo: “Você precisa ser diplomata. O Brasil ganharia em prestígio se você, no exterior, defendesse os seus interesses.”
Contar tudo de Aline Brandt significaria encher milhares de folhas de papel ou páginas do Word. Vou reafirmar algo que lhe disse, na revelação de “amigo secreto”, em um natal de nossas vidas. A sala estava cheia de gente e eu declarei: “Eu elegeria você para presidente do mundo.” Cheguei a me surpreender com esta inesperada afirmativa que fiz. Entretanto, através de um exercício mental feito mais tarde, descobri que inspiração vinda de algum lugar do universo impôs que isso eu falasse. (Homenagem de Francisco de Campos – jornalista - à titular deste blog - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)


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