Amor de chocolate - parte 2

   - John! É você mesmo John! Eu devo estar sonhando. Imaginei o nosso reencontro de milhões de maneiras - mas nada podia ser mais perfeito do que isto. Obrigada pelo chocolate. O pessoal da comissão técnica não vai aprovar muito este seu gesto. Para mim, entretanto, é o impossível se tornando alegre realidade. 
    - Querida! Vivi oito anos, contando cada segundo, a espera deste momento. Não conseguia desenhar, na minha mente, um quadro exato sobre o nosso reencontro. Havia, contudo, uma certeza persistente... Eu a reencontraria para a continuidade de uma história de amor que não podia ser interrompida. Afinal: John e Esther não se conheceram por simples acaso.
    Esther contou a John que, naquele dia, tinha licença para fazer passeios pelo Rio de Janeiro ou ocupar o tempo como entendesse melhor. Os dois, não muito falantes, saíram juntos do estádio. A emoção do reencontro dispensava palavras. A comunicação se dava por gestos de carinho e abertos sorrisos. 
    - Você tem uma moeda para me dar? - Perguntou, para John, uma menina que estava próxima à portaria do estádio.
    - É claro que tenho! - Respondeu John retirando alguns dólares do bolso para entregar à menina. Notou que a simpática pedinte era acompanhada por um cão branco e preto.
    Sob o olhar de admiração de Esther o generoso John foi aprofundando o diálogo com a menina.
    - Como você se chama? E esse cão tem nome?
    - Eu me chamo Magda e este é o meu cão Bob. 
    Depois desse pequeno episódio John e Esther combinaram que ficariam juntos, naquele dia, todo tempo que tivessem. E ficaram. Mataram a saudade. Uma saudade suportada ao longo de oito anos era agora compensada com algumas horas de convivência. Talvez até algumas horas de intimidade. 
    Os dois jovens não jogaram tempo fora. Viveram, naquele dia, tudo o que é possível entre duas pessoas que se amam profundamente. Conversaram. Trocaram elogios. Revelaram sublimes sentimentos. Repartiram carícias. E, como era inevitável, cederam ao clamor da paixão. As poucas horas revelaram, a John e Esther, o quanto é forte a chama do amor mesmo que nutrida à distância. Os oito anos que os separaram fisicamente parecem ter ensinado como usufruir do máximo que o amor permite. E eles não perderam tempo.
    Particularidades
     Nos dias seguintes, face aos compromissos com a olimpíada,  Esther ficou impedida de ver John. Nem por isso John deixou de ir ao estádio. Das arquibancadas acompanhava tudo com muita atenção. É claro que, durante as exibições de Esther, a sua atenção era especial. Um inglês que torcia ferrenhamente por uma integrante da delegação alemã. O amor é assim... Rompe fronteiras... Elimina preconceitos... O amor é a força maior...
    - Você tem mais uma moeda para me dar? 
    - Tenho! - Respondeu John surpreso ao ver, na arquibancada, a menina Magda e o seu cachorro Bob. 
    - Obrigada! Você é um cara legal. E bonito. Onde está a sua linda mulher?
    - Ela não é minha mulher. É amiga. Observe o palco que, em instantes, ela aparecerá.
    John ficou no estádio o máximo que pôde. Mesmo assim não teve a oportunidade de se encontrar com Esther. Ela só ficaria menos compromissada a partir do encerramento de sua participação na olimpíada. 
    Só o irresistível desejo de rever Esther motivou a vinda de John ao Brasil em agosto de 2016. Ele estava em um momento decisivo dos seus estudos. Para galgar o grau máximo, na área da advocacia em Londres, tinha duas alternativas. Uma delas era a aprovação em uma excepcional prova teórica (exame de aptidão). A outra, em caso de reprovação neste teste teórico, seria trabalhar cinco anos em um país pobre e subdesenvolvido fora do continente europeu.
    John reencontrara Esther. Um dos seus conflitos estava dissolvido. Restava, agora, a dúvida sobre as suas alternativas profissionais. Ele queria a aprovação no exame teórico para propor a Esther, o mais rapidamente possível, uma união definitiva. Tinha medo até de pensar na hipótese de viver mais cinco anos longe da sua amada. Estas preocupações ele ainda não havia revelado a Esther. Não queria macular os sagrados momentos que estavam vivendo. 
    Mais afinidade
    Encerrados os compromissos, nos jogos olímpicos do Rio de Janeiro, Esther estava livre para se dedicar a John. Estava livre para viver o mais intensamente possível os prazeres daquele reencontro. Fez questão de apresentar o belo jovem aos pais Johann e Olga que acompanhavam a comitiva alemã. As simpatias foram recíprocas. Tanto John quanto os pais de Esther se mostraram contentes. Nasceu, de imediato, uma forte afinidade entre os recém-conhecidos. 
    John sentiu-se no dever de convidar Esther a conhecer sua mãe Katy na Inglaterra. A viagem foi combinada e tudo transcorreu perfeitamente. A senhora Katy disse ser Esther "uma menina adorável". Três palavras só... Mas três palavras que fizeram Esther amar, além de John, a sua simpática e carinhosa mãe.
    Esther, em Londres, também foi apresentada a Joseph, irmão gêmeo de John. Como tudo na Inglaterra esse momento também a encantou. Sentiu, porém, que Joseph era muito diferente de John. Não só fisicamente mas em se tratando de personalidade. Parecia ser ambicioso demais enquanto John entregava os seus anseios à decisão positiva do tempo.
    John e Joseph estavam, em termos de alternativa estudo/profissional, numa situação idêntica. Joseph também iria enfrentar um exame teórico ou cinco anos em um país pobre e subdesenvolvido. Quem teria o melhor resultado (aprovação no exame teórico)? Esther sentia uma enorme aflição só em pensar que seu amado poderia ficar longe por mais cinco anos.
    De volta para a Alemanha Esther passou a sentir dúvidas em relação ao seu futuro afetivo. Não admitia a ideia de mais um longo afastamento de John. Não mais queria ter dúvidas. Entendia que já era tempo de viver só certezas. E foi assim que convidou John para uma semana de turismo em um país neutro (nem Inglaterra e nem Alemanha). Escolheram, de comum acordo, o Brasil... O Rio de Janeiro. 
    Semanas depois do encerramento dos jogos olímpicos estavam John e Esther novamente no Rio de Janeiro. Desta vez para decidirem seus destinos. John amava Esther... Esther amava John... Por que não viverem esse amor na mais plena intensidade? Cinco anos de afastamento - na opinião de Esther - era algo insuportável. Mas esta era uma alternativa estudo/profissional de John. 
    Decisiva mensagem
    Joseph, irmão de John, se mostrava um homem obstinado... Estudioso... Dava a impressão de que nenhum esforço media para atingir seus propósitos. E a vaga na alta advocacia inglesa estava sendo disputada pelos dois irmãos. Um deles teria que viver cinco anos em um país pobre e subdesenvolvido. Seria John? 
    Esta incerteza fez Esther atravessar algumas noites sem dormir. Viver longe de John oito anos tinha sido uma experiência traumática. Mais cinco anos? "Eu não suportaria" - escreveu a jovem a John em uma folha de caderno. "Fomos feitos um para o outro. Por que protelar a felicidade? Eu deixaria a minha carreira de atleta definitivamente para viver este amor. Não entendo como você pode ainda ter dúvida."
    - Recebi a sua carta e digo que fiquei indeciso. Eu a amo todo o possível. Contudo: a minha carreira profissional vem sendo construída desde que nasci. Há muita gente esperando a minha vitória. Eu a amo todo o possível. Mas não posso frustrar nem a mim e nem aqueles que torcem por meu êxito estudo/profissional.
    Este é o conteúdo do telefonema que John deu logo que recebeu a carta da amada Esther. Ela ficou sem respostas. Não podia negar as razões tão consistentes do estudioso jovem. Optou, então, por ficar em silêncio. John decidiria, por si só, o caminho a seguir. Tinha esse direito. O seu profundo amor não era o suficiente para se dar ao direito de barrar uma brilhante carreira profissional.
    O silêncio de Esther, depois da conversa telefônica, fez John ficar em pânico. Tanto que, em seguida, ocupou diversas folhas para expressar o seu amor e revelar que, se necessário, renunciaria a tudo para viver ao seu lado. Nessa correspondência colocou que viver a felicidade que lhes estava sendo permitida era só o que desejava. Enfim: naquelas folhas de papel estavam palavras que tudo decidiriam... Que uniriam física e afetivamente os dois amantes para sempre.
    Participação de Bob
    John foi à Alemanha disposto a entregar esta mensagem pessoalmente a sua amada Esther. Viajou. Desembarcou no aeroporto de Berlim. Andou pelas ruas de Berlim. Só lhe faltou coragem de ir ao encontro de Esther. "Ela tinha razão ao duvidar dos seus sentimentos. Como uma profissão pode ser colocada acima de um grande amor? Ela tinha razão. Ela tem razão."
    Face a esse raciocínio John decidiu retornar à Inglaterra sem dar à sua amada conhecimento do que havia escrito - escreveu porque tinha dúvida se pessoalmente conseguiria fazer tão elevada confissão. Jogou a longa carta em uma lixeira. Tomou um avião e, resignadamente, voltou para a sua Londres.   
    - Eu tenho algo muito importante para você - disse Magda logo que Esther abriu a porta da sua casa para recebê-la. 
    - Não! Eu não quero entrar. Eu só quero fazer o que o Bob me pediu. 
    - Bob! Pode vir... 
    Esther já havia imaginado como poderia ser a inteira felicidade. Teve, entretanto, a certeza de que a felicidade pode ser sempre maior do que se imagina. Pela boca de Bob lhe era ofertado, naquele momento, um acumulado de papel. Ao abrir o envelope tomou ciência do que John havia escrito sem coragem suficiente para a revelação pessoal.
    O cão Bob, da menina Magda, havia recolhido de um recipiente de lixo algo jogado fora pela insegurança - mas que, na prática e na realidade, era um tesouro para os seus protagonistas.

    Observação da autora: Pela experiência que tenho John e Esther formam o casal perfeito que todos nós imaginamos. Os dois jovens tiveram a sabedoria de superar dúvidas e apostar na confiança. Amar é confiar. (Autora: Aline Brandt - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)
    

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