O amor na rota da promessa - parte 3

    A rotina de Tarso estava, aos poucos, voltando ao normal... Bento e Carlos, depois de duas semanas de ausência, retornaram ao trabalho. Por esta razão o número de pacientes internados no hospital, sob a responsabilidade de Tarso, diminuiu significativamente.
    - Não sei o que faria sem você amigo. A ausência de Carlos foi programada. Já a minha... Não estava em meus planos abandonar compromissos. Fiquei sobremaneira abalado em razão do acidente. Agradeço, do fundo do coração, por cuidar tão bem dos meus pacientes nestes dias de grande aflição - disse Bento.
    - Tenho certeza de que você agiria da mesma maneira meu amigo - comentou Tarso.
    - Vou encontrar uma forma de retribuir sua generosidade. Você não tinha essa obrigação... Já havia se comprometido de atender os pacientes do Carlos. Deve estar sobrecarregado. Se precisar de uns dias de folga me avise. Eu cubro seus horários no hospital - falou Bento.
    - Não se preocupe comigo Bento... O trabalho tem sido, nestes mais recentes dias, minha única válvula de escape para não pensar no sumiço de Laura - destacou Tarso.
    - Esqueça a promessa que fez. Essa moça, pelo jeito, não está querendo ser encontrada - ponderou Bento.
    O passar do tempo  
    Os dias foram se transformando em semanas... As semanas em meses... Tarso percorria a cidade, no seu tempo livre, em busca de Laura. Em várias ocasiões teve a impressão de enxergá-la. Mas era só se aproximar da pessoa que lhe chamara atenção para perceber o engano. "O destino, definitivamente, me pregou uma peça. Só pode ser. Ele me acena com a possibilidade de vivenciar um amor para, logo em seguida, levá-lo para longe."
    Tarso, Bento e Carlos, aproveitando uma noite de folga, saíram para conversar. Escolheram, como ponto de encontro, um pequeno e aconchegante restaurante na parte histórica da cidade. O frio não impediu que a troca de ideias se estendesse até altas horas da noite.
    - Precisamos nos encontrar mais vezes... Relembrar os tempos de faculdade... Foram anos de muito estudo e centenas de noites sem dormir. Mesmo assim sempre encontrávamos tempo para uma diversão. Sinto falta das memoráveis festas dos acadêmicos e, principalmente, das conversas que tínhamos nos poucos momentos de folga - lembrou Carlos.
    - Verdade... Os anos passam rápido demais. As responsabilidade vão aumentando... Falta tempo para dedicar aos amigos  - comentou Tarso.
    - Tarso... Olhe o casal que está entrando no restaurante. Eu estava meio desnorteado na noite do acidente... Acho, porém, que é o amigo de Marcos e Laura... O jovem que conversou com você no hospital - alertou Bento.
    - É ele!!! Vou ver se consigo alguma informação sobre o paradeiro de Laura - falou Tarso.
    Tarso se aproximou do jovem casal com visível ansiedade. Foi reconhecido, de imediato, pelo rapaz...
    - Boa noite doutor! Como tem passado? - perguntou o rapaz.
    - Boa noite. Estou bem... E você com está? - indagou Tarso.
    - Muito bem  - respondeu o rapaz.
    - Preciso de um favor... Você sabe onde posso encontrar Laura? Desde que ela saiu do hospital não tive mais notícias... Estou preocupado com o bem-estar dela - disse Tarso.
    O rapaz, que Tarso lembrou chamar-se Rodrigo, contou que Laura estava trabalhando, à tarde, no Centro de Assistência Social. Também falou que Laura havia alugado pequeno apartamento em um bairro longe do centro da cidade.
    Tarso, depois da breve conversa com Rodrigo, despediu-se de Bento e Carlos. Em seguida foi para casa. Apesar do cansaço o sono não foi tranquilo... Na cabeça havia um turbilhão de pensamentos - todos direcionados a Laura. "Faz tanto tempo que não a vejo... Nem posso acreditar que amanhã vou encontrá-la."
    Reencontro   
    Tarso cumpriu todos os compromissos do dia. Decidiu que, antes de visitar seus pacientes no hospital, iria até o Centro de Assistência Social.
   Laura estava em sua sala quando foi surpreendida pelo anúncio da chegada de Tarso. Foi encontrá-lo na recepção. Ao vê-lo seu coração se encheu de ternura... "Já estava esquecendo este jeito doce de Tarso. Ele deve ser uma pessoa especial."
    - Olá Tarso... Que surpresa... Não esperava sua visita - falou Laura.
    - Encontrei o Rodrigo ontem à noite... Ele me contou que você está trabalhando aqui. Resolvi procurá-la. Precisava saber como está. Você desapareceu depois daquela nossa última conversa no hospital -  reclamou Tarso em tom de brincadeira.
    - Não tive a intenção de preocupá-lo... Se soubesse que lhe causaria aflição teria telefonado - ressaltou Laura.
    Depois de um amigável e carinhoso abraço Tarso e Laura deixaram o Centro de Assistência Social. Foram conversar em um parque nas proximidades...
    - Uma caminhada fará bem. Tenho meia hora de intervalo. Posso me ausentar um pouco do escritório - explicou Laura.
    - Também estou precisando respirar um pouco de ar puro... Passo meus dias entre quatro paredes... Mas deixemos a minha rotina de médico de lado. Fale-me um pouco da sua vida. Como tem passado? - quis saber Tarso.
    - Estou começando a me sentir melhor... A saudade que sinto de Marcos ainda dilacera meu coração. Existem dias em que acordo pensando que tudo não passou de um sonho... Que o Marcos vai, a qualquer momento, reaparecer. Aos poucos, porém, estou aprendendo a conviver com a ausência dele - confessou Laura e prosseguiu:
    - Aquela conversa que tivemos no hospital foi de grande ajuda... Eu estava me sentindo em um buraco sem fundo... Suas palavras me resgataram. Percebi que não adiantava me desesperar porque Marcos não iria voltar... Optei, então, por continuar vivendo. Para que isto acontecesse, entretanto, eu precisava mudar a rotina. A primeira decisão que tomei foi sair do apartamento onde morávamos. Afinal: era o nosso apartamento - do Marcos e meu. Eu não conseguiria viver lá sem ele. Também precisava deixar para trás o trabalho no orfanato (pelo menos enquanto a dor persistisse) - confidenciou Laura.
    - Fico feliz por saber que está conseguindo se recuperar. Está gostado do seu novo trabalho? - questionou Tarso.
    - Sinto saudade das crianças do orfanato... Estou buscando outros meios de ajudá-las... O trabalho aqui é bom... O salário é baixo - em razão de ser uma jornada só de meio expediente. Estou, por este motivo, procurando mais um emprego - revelou Laura.
    - Acho que posso lhe ajudar. A assistente social do hospital entrará, brevemente, em licença maternidade. Posso indicar o seu nome para ocupar a vaga - já que ainda não surgiram candidatas com as referências necessárias - frisou Tarso.
    - Eu adoraria trabalhar no hospital... Serei-lhe grata por mais esta ajuda. Você é um bom amigo Tarso. Estou feliz por ter resolvido me procurar - pontuou Laura.
    Tarso e Laura conversaram por mais alguns minutos... As obrigações profissionais, porém, fizeram com que se afastassem.
    - Foi muito bom conversar com você Tarso. Mais uma vez obrigada por tudo que tem feito por mim - agradeceu Laura.
    - Não precisa agradecer... Prometi, ao Marcos, que a atenderia em todas as circunstâncias. Você tem, em mim, um amigo. Eu a espero amanhã cedo no hospital. Vou lhe apresentar a diretora de recursos humanos... O resto fica por sua conta - colocou Tarso com um sorriso iluminado.
    A despedida deu-se com um abraço - que, para os observadores, foi bem mais longo do que o necessário... Laura voltou ao trabalho. Tarso, com o coração cheio de esperança, foi visitar seus pacientes no hospital. "O dia foi perfeito... Quem sabe o que o futuro reserva? Acho que consigo uma brecha no coração tão sofrido de Laura... Tenho esperança de que ficaremos juntos" - pensou ele ao chegar em casa.
    Tarso, depois de meses sem conseguir dormir direito, teve então uma noite tranquila. O coração estava, enfim, começando a bater em ritmo sossegado...  (Teremos desdobramentos em breve - Autora: Aline Brandt - Todos os direitos reservados/Lei dos Direitos Autorais N° 9610/98)

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